É notório os distintos comentários relacionados ao ato de se tatuar. E é um dos assuntos que não gostaria de deixar passar em branco até mesmo pelo meu gosto por me tatuar.
Convenhamos que ainda vivemos em uma sociedade machista, um tanto contraditoria e como mulheres ainda temos que aprender a lhe dar com muitas opiniões que acabam nos atigindo. Seja positivamente ou não.
Gosto de tatuagens e tenho algumas delas, meu primeiro desenho eu fiz aos 17 anos.
Durante o tempo em que estudei dança do ventre, confesso que muitas vezes ficava preocupada com o ambiente de apresentações, se seria um evento tradicional, porém, naturamente foi se tornando comum encontrarmos bailarinas tatuadas.
Hoje, no geral, tenho 8 desenhos, alguns a mostra , outros mais escondidos. Não são muitos diante de outras mulheres ( bailarinas) com o corpo trabalhadíssimo em cores, mas é o suficiente para muita gente te ``olhar de lado``
Bem, o momento de sentarmos e pagarmos por um bom trabalho em nosso sagrado corpo é uma escolha única e exclusiva nossa, onde nem precisamos voltar ao assunto `sociedade`pois ja a conhecemos muito bem!!!
Sejamos honestas, tatuagens (dependendo do tamanho, to tema, do local) nunca foi bem visto na cena da dança do ventre.
( Mas graça aos deuses, aqui, nesse nosso mundo tribal elas são muito bem vistas e bem vindas!!!) E quem dança e tem tatuagem sabe do que estou falando!
Abaixo, segue texto que trata com muito carinho e pesquisa sobre o ato de se tatuar.
As culturas, as tribos as tradições
Tão antiga quanto a própria humanidade e tão intensa como os sentimentos impregnados em seus desenhos, a prática de tatuar é uma arte milenar. Apesar dos dogmas religiosos ocidentais, a cultura de marcar o corpo se espalha cada vez mais. Desde o Egito antigo ao paraíso recentemente colonizado da Nova Zelândia, a técnica era usada para reverenciar deuses e vista como símbolo de status dentro da tribo. Percorrendo as linhas de tinta que cruzaram culturalmente as peles taitianas, japonesas, indianas, e africanas; dos índios americanos aos esquimós, Charles Darwin afirmou que nenhuma nação desconhece a arte da tatuagem. Perseguida por papas e estereotipada nos braços de piratas e presidiários, a história das tattoos carrega uma intensa cultura. Saiba mais com o Adoro Viagem.
TATUAGENS
Estudos arqueológicos indicam que os primeiros sinais de tatuagem datam de 5.300 anos atrás. A famosa múmia do Homem do Gelo, descoberta em 1991 na região dos Alpes, carrega em seu corpo traços feitos com linhas azuladas. Múmias do sexo feminino datadas de 2160 a.C apresentam pequenas escrituras na região abdominal, que significariam rituais de fertilidade.
Os nômades do norte faziam tatuagens para registrar sua própria história, seu passado e suas crenças em seus constantes deslocamentos, a prática se estendeu pelos cinco continentes e passou a ser usada em rituais religiosos, marcação de prisioneiros, escravos, identificação social, ornamentação e – pasmem- camuflagem.
Aqui nas bandas do ocidente, a religião cristã condenou seu uso no século 8, já que o Antigo Testamento afirma: "Não façais incisões no corpo por causa de um defunto e não façais tatuagem". Só no ano de 1769 a arte saiu da margem do pecado e foi redescoberta pelo navegador inglês James Cook, em uma de suas viagens à Polinésia. Foi James quem deu a tatuagem o nome que conhecemos hoje; tattoo. Quando ele pisou no arquipélago, reparou que os nativos pintavam seus corpos e traçavam desenhos permanentes na pele, o barulho feito pelos instrumentos rústicos cravando a tinta ao corpo fez com que os nativos chamassem o processo de tatau.
Em 1981, Samuel O’Reilly desenvolveu um aparelho elétrico para fazer tatuagens (antes eram usados objetos que variavam entre bambu, ossos, pedras, dentes de animais e etc) inspirado em um outro projeto bem parecido patenteado pelo próprio Thomas Edison. Depois disso foi só esperar a moda marcar. Durante a segunda guerra mundial marinheiros e soldados tatuavam o nome ou algum símbolo que representasse seus amores distantes. No final do século XX a arte generalizou e é, desde então, uma moda nada passageira e definitivamente duradoura.
Nem sempre o estudo da tatuagem no Egito Antigo foi considerado relevante para entender a cultura desses nossos antepassados. Em 1891 os arqueólogos descobriram os restos mumificados de Amunet, uma sacerdotisa da deusa Hathor, nas proximidades do Rio Nilo. Os estudos constataram que ela viveu entre o século 2160 ac e 1994 aC, e em seu corpo estavam desenhadas várias linhas e pontos na região das pernas, colo e braços. Os traços formavam um agrupamento de pontos em padrões geométricos abstratos, associados à rituais de fertilidade. A técnica consistia em inserir um pouco de tinta à base de vegetais logo abaixo da derme, usando uma afiada haste de osso. Antropologicamente falando, é possível que os egípcios tenham sido os responsáveis por difundir a prática da tatuagem ao redor mundo. Na época da construção das pirâmides, entre a terceira e quarta dinastia, eles iniciram uma relação internacional com Creta, Grécia, Pérsia e Arábia, e em meados e 1990 aC a arte já tinha chegado ao sudeste da Ásia graças as rotas comerciais.
TAITI
A maior ilha da Polinésia Francesa foi a epifania do navegador James Cook, que redescobriu a arte da tattoo. Lá, a tradição local define a prática da tatuagem como origem divina. Segundo a mitologia do Taiti, foram os deuses que ensinaram aos homens a arte de tatuar, eles a criaram com o intuído de seduzir uma mortal e purifica-la através do sexo, depois do ato, os deuses tatuaram o rosto da mulher como uma forma de presente. Os homens podem tatuar o corpo inteiro, mas para as mulheres só é permitido desenhar no rosto, no braço e nas pernas.
JAPÃO
A história da tatuagem no Japão é ambígua e bastante irônica. Na época feudal as tatuagens eram usadas como forma de punição, ser tatuado para os antigos japoneses era uma marca negativa eterna em seus corpos. Um simples traço no braço era considerado pior que a morte. Tempos depois, na tenebrosa Era Tokugawa, a repressão era tão intensa que ser considerado um criminoso era sinônimo de resistência, a tatuagem entrou no pacote e se tornou indispensável no corpo daqueles que queriam protestar. Quando surgiu a Yakuza, famosa máfia japonesa, a tatuagem foi usada como sinal de lealdade e sacrifício à organização e estava presente no corpo de todos os membros, o principal desenho é um dragão que cobre as costas e abraça o corpo inteiro.
ÍNDIA
Entre os países com tradição milenar na arte de se expressar com tinta na pele, a Índia se destaca. O país foi o primeiro a desenvolver a técnica mehndi, conhecida por nós como a tatuagem de henna feita na praia. Lógico, a versão original lá da Índia não tem nem comparação com a adaptação brasileira, mas o produto é o mesmo, um pigmento natural de henna. Os desenhos duram no máximo uma semana, e sua importância cultural é extremamente antropológica, já que a pintura é usada em ocasiões especiais. O ritual de casamento só é completo se a noiva receber o desenho nas mãos e nos braços. Quando a moça vai se casar, a família chama um astrólogo para determinar as possíveis dificuldades futuras em seu casamento, a partir daí ele escolhe o melhor desenho para tatuá-la e guiar as boas energias dos deuses.
Os nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia tatuavam-se em rituais um pouco mais complexos. O povo Maori, natural da Nova Zelândia, se destaca pela criatividade do Moko, a tatuagem tradicional feita no rosto. Ela tinha o proposito de distinguir os integrantes de diferentes classes sociais e era feita com espirais que se encaixam. Cada uma delas simbolizava um nível hierárquico e a prática só era destinada aos homens livres. Diferente da Roma Antiga, onde só os escravos deveriam ser tatuados, na Nova Zelândia os subalternos estavam proibidos de tatuar. Depois que os líderes maoris morriam, sua família conservava a cabeça tatuada na sala da casa como relíquia.
CELTAS
O povo tribal que ocupou uma parte da Europa ocidental em meados de VI a.C até o século I a.C deixou traços de sua cultura principalmente na Irlanda, no País de Gales e na Escócia. Como suas cerimônias e suas crenças reverenciavam a arte corporal, a pintura do corpo era importante para simbolizar ligações inquebráveis e a jornada pelos mais conturbados caminhos da vida. A pintura permanente era feita com a woad, planta tipicamente européia de pigmento azul. Os desenhos mais comuns eram as espirais, que podiam ser simples, duplas ou triplas. A Knotwork era a mais usada, suas linhas formam entrelaçados complexos que representavam as ligações da tribo e os labirintos da vida.
Como a tatuagem comum com traços mais elaborados não é tão comum entre os povos de pele mais escura, as tribos africanas cultivaram a prática da scarification (escarificação). Como o nome já sugere, a técnica provém de cicatrizes e não de uma tinta impregnada na pele. Os cortes são feitos por grande parte da extensão do corpo , e alguns povos chegam a utilizar o método com fins terapêuticos, para introduzir medicamentos diretamente no organismo. A prática é muito comum em ritos de passagem, como no Sudão, onde as mulheres são submetidas a três processos de escarificação: O primeiro aos 10 anos de idade, quando elas marcam a região torácica com pequenos cortes. O segundo na primeira menstruação, quando os cortes são feitos nos seios e, após a gestação, elas são marcadas nos braços, pernas e nas costas.
Antes do Miami ink e das tatuagens hollywoodianas, a tribo Sioux (também conhecida como Dakota) ocupava a região centro-norte dos Estados Unidos. Para eles, tatuar o corpo servia como uma expressão religiosa e mágica. Sua mitologia dizia que após a morte, um de seus deuses aguardava a chegada das almas e exigia ver as tatuagens dos índios para permitir que eles entrassem no paraíso.
Talvez o aspecto mais interessante ao refletir sobre os povos passados seja a relação entre os desenhos tribais e a arte corporal das tribos antigas espalhadas pelo planeta. A semelhança entre seus significados pode explicar muito sobre as relações nômades entre uma cultura e outra, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
Reservo, então, este espaço com imagens de bailarinas e obviamente suas tatuagens.
(Brasil)
Gabriela Miranda |
Lilian Kawatoko é integrante do grupo Ulan Daban, designer de moda e proprietária da Loja Khalidah |
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